CENA 00 - TAXI
- Frederico Bellini
- 1 de abr. de 2021
- 3 min de leitura
CENA 00: BOTAFOGO/ TAXI / INT / DIA.
A CAMINHO DO TRABALHO, BELLINI PEGA UM TAXI. O MOTORISTA ESTÁ OUVINDO UMA RÁDIO RELIGIOSA.
MOTORISTA: Bom dia, o senhor vai para onde?
BELLINI: Jardim Botânico, por favor.
MOTORISTA: Qual a rua?
BELLINI: Lopes quintas.
LOCUTOR: (OFF) Pois é, a gente tem uma convidada especial aqui nos nossos estúdios. A irmã Claudia. Ela é psicóloga e vai falar um pouco pra gente sobre esse assunto que está sendo tratado na novela das 21h da amizade entre duas mulheres. Bom dia, Claudia!
CLAUDIA: (OFF) Bom dia a todos, pois é. É um tema realmente muito delicado que a gente precisa olhar com muita atenção. Porque, veja bem. A mulher quando é casada, se ela começa a dar menos atenção ao seu marido, às necessidades dele, para ficar com uma amiga. Isso tá errado. Tem alguma coisa errada nesse casamento. Uma mulher não pode tirar do marido para dar para a amiga. Esse tipo de atitude pode decretar o fim de uma união. A mulher correta, deve sempre zelar pela união e pelo casamento atendendo ao que o seu marido precisa.
MOTORISTA: Isso aí é verdade mesmo, sabia? Eu tinha uma namorada, lá da minha igreja mesmo, que tinha uma amiga que vivia colada nela. E ela tinha assim uma situação financeira melhor, sabe? Então, por exemplo. Ela comprava um computador novo, dava o velho pra amiga. Comprava uma roupa pra ela, dava uma pra amiga. Eu ficava só observando...
BELLINI: Mas você ficava chateado?
MOTORISTA: Chateado, chateado, não... Mas eu sentia que tinha um negócio esquisito ali, sabe?
BELLINI: Um relacionamento?
MOTORISTA: Não é isso... Mas não era normal aquilo. Daí o que foi que eu fiz? Eu detectei que tinha um negócio estranho entre elas. Mas não era negócio de lesbianismo, não! Não era isso.
BELLINI: Mas então o que era?
MOTORISTA: Era um lance de interesse! A outra tinha era interesse na amizade porque ela tinha uma condição melhor! Tá me entendendo?
BELLINI: Mas se ela não se incomodava em dar para a amiga, porque você ficava assim?
MOTORISTA: Não, veja bem. Ela podia dar o que ela quisesse. Quer dizer, o que ela quisesse, não. As coisas dela. Quer dizer. Ah, o senhor entendeu o que to dizendo, né?
BELLINI: Pois é, se ela tinha de sobra e queria dar, qual o problema? O importante é ser feliz.
MOTORISTA: Não sei, me deixava chateado.
BELLINI: Mas você conversou com ela sobre isso?
MOTORISTA: Conversei não.
BELLINI: E não seria melhor se tivesse conversado?
MOTORISTA: Eu acho que o poblema (sic) era dela, sabe? Então não quis me meter.
BELLINI: Mas você ficou com ciúmes?
MOTORISTA: (OFENDIDO) Ciúmes? Não, claro que não! Eu não tinha nada a ver com isso.
BELLINI: Mas você se preocupou, observou, tá me contando essa história agora. Quer dizer, isso mexeu com você de algum jeito. Você não fez nada?
MOTORISTA: (SE EXALTA) Claro que eu fiz!
BELLINI: O que?!
MOTORISTA: Eu esperei um dia que ela me disse que ia viajar. Daí fiquei quieto, só observando. E ela convidou a amiga pra ir com ela e não me convidou.
BELLINI: Aí você conversou com ela?
MOTORISTA: Aí eu só cheguei pra ela e disse que não dava mais pra mim, não. Terminei o namoro. Mas eu perdoei ela, sabe? Só não quis mais papo.
BELLINI: Perdoou o que? Se você disse que ela não fez nada contigo, o que havia para perdoar?
MOTORISTA: (ENTRANDO NA RUA LOPES QUINTAS) O senhor vai ficar em que altura da Lopes Quintas?
BELLINI: Número 303, na TV Globo. Mas então, você não fala mais com ela?
MOTORISTA: (PEGANDO A TABELA) Deu 15 reais.
BELLINI: Tem troco pra 50?
MOTORISTA: (IRRITADO) Não tenho, não senhor. Comecei agora e você foi meu primeiro passageiro, mas não precisa pagar. Bom trabalho.
BELLINI: Imagina, tenho que te pagar, deixa eu tentar trocar ali na portaria.
MOTORISTA: (CORTANDO) Não precisa pagar, não senhor. Pode descer e bom trabalho.
BELLINI SAI DO CARRO, OLHA PELA JANELA E DIZ:
BELLINI: Perdoa ela. De verdade. A culpa não era sua
O TAXISTA ARRANCA COM O CARRO SEM FALAR MAIS NADA.

CORTA.
댓글